No último post que fiz, eu falei um pouco sobre algumas tecnologias que estão sendo desenvolvidas para integrar o tato, ou melhor, uma simulação dele, no mundo da realidade virtual.
Nesse post quero tratar sobre o tema Tato na Realidade Virtual, vendo, novamente, alguns produtos que tentam preencher essa lacuna e explicando como funcionam e como eu acho que seriam na forma ideal. Também quero deixar a imaginação fluir e descrever como eu acho que esse sentido deve ser integrado no VR.
Se eu tivesse que listar meus sentidos favoritos, sem considerar a importância biológica deles, o tato estaria em segundo lugar, logo depois da audição. Acho muito interessante como conseguimos criar uma imagem mental apenas apalpando um objeto, podemos até ter uma vaga ideia do material que ele é feito dessa maneira. Creio que esse sentido seja deixado um pouco de lado nas situações do dia a dia. Quando comemos, por exemplo, nossa língua, além de sentir o gosto da comida, também registra a textura dela. Essa textura, para mim, é muito mais importante que o gosto.
Indo um pouco mais para o universo que vou abordar aqui, outro exemplo interessante é quando jogamos videogame. A sensação de segurar um controle impacta muito na jogabilidade, não apenas por conta da ergonomia, mas também por estabelecer a relação entre o jogador e o jogo. As empresas usam a vibração, o formato dos botões, como os gatilhos das manetes, numa tentativa de colocar o jogador mais próximo do mundo virtual.
E na Realidade Virtual, na qual o usuário realmente usa as mãos para interagir com o mundo digital? Será que as grandes empresas não estão focando muito apenas na visão e audição?
Como disse no último blog, embora a grande parte dos produtos relacionados com VR consista em óculos e controles super ergonômicos, existem algumas tentativas de incorporar o tato humano.
Seguem algumas que mais me chamaram a atenção:
Dexmo Haptic Gloves
Uma dessas tentativas são as Dexmo Haptic Gloves, desenvolvidas pela Dexta Robotics. Não vou mentir, em um primeiro momento essas luvas me chamaram a atenção por conta do design, elas tem uma aparência bem futurista, quase cyberpunk. Mas depois de pesquisar mais, meu interesse se voltou mais para as propriedades delas. Essas luvas são capazes de restringir o movimento dos dedos, simulando assim a sensação de estar segurando um objeto que não existe no mundo real.
Elas funcionam por meio de 5 motores, um para cada dedo, que, com o auxílio das hastes, os puxam, impedindo assim, o movimento. Essa mesma força consegue simular uma sensação primitiva de toque. Dessa forma, dependendo do material simulado pelo objeto, quanto mais força é aplicada, maior a resistência que as luvas exercem.
A Dexmo Haptic Gloves, embora seja o tipo de tecnologia háptica para VR que chegará mais cedo para o consumidor, não estimula o tato da melhor maneira. Não é possível sentir relevos ou texturas e, principalmente, está limitada apenas às mãos.
Site do oficial
Haptx Gloves
Outra maneira de integrar o tato à realidade virtual é como as Haptx Gloves fazem, estimulando de verdade o tato nas mãos. Criada pela Haptx, essas luvas se destacam pois usam um mecanismo que consegue estimular o tato em áreas pequenas e precisas. Essas luvas, assim como o modelo citado antes, também impedem o movimento dos dedos para simular o contato com objetos.
As Haptx Gloves funcionam com 130 "células" espalhadas pela palma, ponta dos dedos e parte do antebraço de cada luva. Dentro de uma grande caixa, conectada ao aparelho, encontram-se centenas de controladores de pressão, um para cada célula. Esses controladores são os responsáveis por mandar certa quantidade de fluido para as células, que se expandem, apertando determinada região da pele, estimulando, assim, o tato.
Além disso, as luvas usam um sistema de freio que impede o movimento dos dedos. Diferente do modelo anterior, não existem motores que puxam os dedos para trás, mas sim uma espécie de trava que segura as chapas de metal que acompanham as falanges.
Os criadores da luva dizem que, para conseguir simular o tato de uma maneira realista, é necessário saber a posição e o movimento preciso de cada dedo. Para isso, eles contam com um sistema de "tracking" baseado em eletromagnetismo. Dentro de cada dedo da luva encontra-se um eletroímã que permite, com base nas mudanças do campo magnético da luva, saber exatamente a posição de cada um.
Essas luvas chamaram muito minha atenção pois conseguem atender várias questões de uma só vez: a sensibilidade da pele, o movimento e a posição dos dedos. Porém, além de ser uma tecnologia com foco voltado para o meio industrial, ainda está restrita à apenas as mãos, deixando de explorar o restante do corpo. As Haptx Gloves também não aproveitam as sensações térmicas, que é um fator muito importante para a imersão em um novo ambiente. Sem falar, é claro, na imensa caixa que deve ser conectada à luva para seu devido funcionamento, o que a torna inadequada para a maioria do entretenimento de VR.
Esse produto seria muito mais preciso caso atingisse uma área corporal maior e fosse, de alguma forma, mais portátil.
TESLASUIT
Felizmente os produtos que exploram o tato na realidade virtual vão além das luvas.
A TESLASUIT, por exemplo, é uma roupa que promete simular o toque em boa parte do corpo. Ela me chamou a atenção pois, além de ser bem parecida com a roupa do filme Jogador Número 1, cobre muito mais do que as mãos (na verdade cobre quase o corpo todo, menos as mãos). Outro motivo foi a promessa de garantir motion tracking, toque e mudança de temperatura em apenas um produto. Porém, não encontrei muita informação sobre essas últimas funcionalidades, imagino que ainda não exista um modelo que cumpra todas elas.
Sobre a parte que consegui encontrar, a do toque, descobri que a TESLASUIT usa pequenas descargas elétricas para estimular a pele e os músculos. Admito que achei um pouco estranho e que não considero essa a melhor maneira de explorar o tato, defeitos podem ser perigosos para o usuário.
Essa roupa seria ideal caso utilizasse uma tecnologia similar à das luvas da Haptx. Porém, deveria ser feito de tal forma que não existisse a necessidade de uma grande caixa de controladores. Além disso, seria interessante atingir as mãos também, já que é a área mais usada em jogos e simulações.
Tactsuit
Outro exemplo é a Tactsuit, um conjunto de colete e outros acessórios que, diferente da TESLASUIT, usam vibração para estimular o tato de várias partes do corpo humano.
Criado pela bHaptics, esse produto me chamou atenção pois é uma alternativa menos agressiva que a TESLASUIT, uma vez que não aplica eletricidade direto no corpo. Ela funciona por meio de uma série de motores espalhados pela roupa.
Embora produza estímulos menos "violentos", a vibração da Tactsuit não é a ideal para simular o tato. O ideal seria algo como as Haptix Gloves, vários atuadores espalhados pelo corpo, garantindo uma resolução e precisão maiores. Além disso, seria necessário cobrir área maior do corpo.
Thermo Real
Um outro produto com um conceito muito interessante é o Thermo Real, da empresa coreana Tegway. Trata-se de um dispositivo que é acoplado aos óculos de realidade virtual que esquenta ou esfria, dependendo do tipo de ambiente virtual. Também existem outros módulos que são presos nos braços e nas mãos. O Thermo Real chamou minha atenção pois é um dos poucos produtos que realmente passam sensações de temperatura.
Ele usa 3 células termoelétricas em contato direto com a pele do usuário. Essas células esquentam ou esfriam e conseguem alcançar temperaturas bem altas ou baixas. Tudo é conectado a um dispositivo Bluetooth e à uma bateria, assim, não são necessários fios extras no setup de VR.
Um dos problemas do Thermo Real é que ele atua apenas na face e nos braços, o que prejudica bastante a imersão, pois cada parte do nosso corpo tem uma temperatura diferente, ou seja, sentimos mais frio/calor em certas regiões. Além disso, um grande problema é a temperaturas relativamente extrema que ele alcança. Em um vídeo no qual usam o Thermo Real, é dito que chega a doer, tanto por causa do calor quanto do frio. Assim, falhas de funcionamento são perigosas, principalmente por estar no rosto. Uma solução seria usar células mais fracas espalhadas pelo corpo todo.
Como eu faria?
Aproveitando todos esses exemplos e tendo eles como base, gostaria de descrever aqui como eu acho que seria o aparelho ideal para integrar o tato à realidade virtual. Minhas ideias não levam em conta a tecnologia nem o dinheiro disponíveis para a produção, são uma visão "utópica".
Primeiramente, com toda certeza seria algo que cobre o corpo todo, como um macacão, assim como a TESLASUIT, porém, incluiria luvas e uma espécie de arco, que estenderia o efeito até o rosto. Em diversas áreas do macacão existiriam grupos das "células" presentes na Haptx Gloves. Assim, seria possível agir em regiões onde descargas elétricas não são aconselhadas, como o rosto, além de ser um método mais seguro (quando comparado com a TESLASUIT).
Além desses atuadores, existiriam vários módulos para controlar a temperatura. Eles funcionariam de uma maneira similar aos cobertores elétricos (aqueles aquecidos): vários fios de estenderiam ao longo do corpo, eles aqueceriam ou esfriariam de acordo com a situação. Vale lembrar que eles seriam relativamente fracos, para evitar acidentes.
No que diz respeito ao tato das mãos, existiria uma luva similar a da empresa Haptx, porém, possuiria os fios para o controle de temperatura, assim como o restante do macacão.
Porém, uma das coisas mais legais, que é sentir a textura das coisas, ainda não seria possível. Seria necessário uma resolução muito grande e atuadores muito pequenos para isso. Esse problema ainda está um pouco longe de ser solucionado, mas quem sabe falo disso em outra postagem.
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